Página de um diário de alguém diferente. (n1)


Vamos descobrir a vida de muitas pessoas que passaram pelo mundo e que não tivemos oportunidade de conhecer, foram tiradas páginas de diários das mesmas. Atreve-te a conhecer o mundo aonde vives.



20 de Janeiro de 1550


Querido diário

    Encontro-me aqui após mais um dia de luta contra a minha própria vontade. Não quero me entregar a esta vida, se é que posso chamar vida... Senti necessidade, hoje, mais do que nunca.
    Meu tio Francesco veio cá, tentar fazer-me mudar de ideias. Não conseguiu, claro. Colocou aquele copo mesmo em frente aos meus olhos sedentes por o beberem. Senti o corpo a arder, mas não podia correr o risco de o beber até à ultima gota...seria o fim da minha disputa interior, mas também o fim de tudo o que construí até agora!
    Arriscar-me a perder o homem que, apesar de julgar o que realmente sou, se mantém fiel ao meu lado não é uma opção. Ás vezes, como sabes meu amigo diário, eu preciso sair do meu lar, senão cometo o maior erro de minha vida, e não o quero fazer... 
   Condeno o dia em que me deixei ir pela voz de um homem. Homem este que matou-me, sim ele simplesmente matou-me. E hoje encontro-me aqui a pagar por este erro. O de ter feito, aquilo que para mim era amor, com ele.
   Hoje perdida no meu próprio mundo, na minha própria condição pensei em morrer, mesmo já estando morta, mas eu não posso deixar o homem, que me aceitou assim, para trás. Simplesmente não posso.
   Porém também, querido Diário, eu não posso esquecer nem tão pouco apagar o dia em que eu me encontrei sobre a mesma cama que aquele outro, que me seduziu por completo, me amou no seu modo de amar, me acariciou e fez-me perder a noção do tempo. Ele fazia tudo perfeito, para quem estava a ter a sua primeira vez, era um gentleman, um verdadeiro gentleman. Mas parecia que há medida que o prazer era mais intenso, ele ia deixando-se de delicadezas. A pele dele estava a tornar-se estranha. Não conseguia ver bem o que tinha na pele, nem como estava, mas não foram precisos muitos minutos para ter noção do que se tratava. Os ruídos que fazia eram de quem estava verdadeiramente esfomeado, eu não sabia se de prazer... Até perceber que a fome dele era outra, completamente outra. Sangue era o que ele queria. O meu sangue.
    E depois de o ter conseguido matar, após 125 anos do sucedido, eu estou aqui, ainda lutando contra a vontade de beber sangue. 
    Fui transformada, hoje eu sou uma mulher desespera. Só queria poder voltar a ser humana! E também que meu tio, que nem sequer o era  enquanto eu era viva , me deixa-se ser, ao menos, uma vampira civilizada.
    Até amanha querido Diário, beijos da tua Molie.



Vou matar este meu tio, amanha trago.te novidades querido Diário.





Nota: Este texto foi elaborado por Cátia Martins, dona do blog "Saberpensarparasabersorrir". Todos os direitos estão reservados.

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